O silêncio reinara por 400 anos ininterruptos. Nada mais era que a expressão da mais profunda dor de alguém que falara constantemente com os seus e fora ignorado, cujo amor foi desprezado. Essa é a história de uma família real e de seus súditos. Um pai e seus filhos.
Um rei vivia em silêncio até que um dia resolveu olhar para o mundo na esperança de enxergar algo diferente. Uma luz que irradiasse em meio às densas trevas.
Seus olhos eram tão meigos, porém carregavam um profundo pesar. Vagueavam sobre a terra sem nada encontrar; nenhuma luz sequer viu ele. Nem um justo sequer havia entre os homens.
Olhou então para seu relógio e percebeu que havia chegado a hora de agir. A hora de romper o seu silêncio. Chamou então seu filho unigênito.
— Filho, vinde a mim, amado. Preciso falar com você.
O filho, sempre solícito, prontamente ouviu o chamado do pai, e este logo começou seu desabafo, expressando em poucas palavras sua maior declaração de amor já feita — e insuperável até os dias atuais.
— Filho amado, você é uma alegria para mim.
— O que te aflige, pai meu? Por que teu semblante está entristecido?
Ninguém conhecia melhor o pai do que seu filho.
— Jesus, filho meu. Hoje olhei eu para o mundo e não vi um justo sequer. Vejo que os meus escolhidos andam como se fossem ovelhas sem pastor. Não sabem eles o caminho para o reino. Não sabem onde estão os portais eternos.
Além do que, lá embaixo há alguém perverso, a própria personificação da maldade. Ele anda em derredor como se fosse um leão, rugindo, buscando a quem possa tragar. Anda prendendo meus filhos em uma masmorra da qual eles não conseguem sair, e não há ninguém no mundo que possa tirá-los de lá.
— Filho meu, não há outro que possa eu enviar para tal incumbência. Preciso que você desça lá e mostre a eles o caminho para o céu. Guia-os ao reino, filho meu.
— Porém, saiba que lá há pessoas que nem entram pela porta nem deixam que os outros entrem. Trata-se de um povo obstinado que nada sabe, embora ostentem uma pseudo-sabedoria. O que você me diz, querido meu? Aceitará a missão que lhe tenho proposto?
O filho, vendo a profundidade do amor do pai e sabendo da importância imensurável de tal pedido, não pôde resistir a tal convite. Disse ele:
— Pai nosso, seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu. Eis-me aqui, envia-me a mim.
O pai, emocionado, não conteve suas lágrimas. Abraçou o filho, pensando em cada dor que tal obra lhe causaria. Uma dor tão intensa, capaz de marcá-lo para sempre.
Despediu-se então o filho e partiu para o reino terreno.
No tempo devido, manifestou-se ele, ensinando ao povo o caminho para o céu, mostrando-lhes a porta do reino. Muitos foram seus espectadores. Mas, bem sabia ele da debilidade moral que cada um possuía e do amor imperfeito que lhe ofereciam.
Aqueles que tentavam trancar a porta do céu logo induziram uma multidão — a mesma multidão que Jesus, o Príncipe da Paz, havia alimentado com seu amor. Essa mesma gente não lhe poupou e, ecoando a ingratidão, gritaram:
"Crucifica-o! Crucifica-o!"
Não sabiam eles que tudo isso já era sabido da família real. Que tudo não passara da consumação de um plano visando cumprir os propósitos infindos do rei.
Deu então o príncipe sua vida, após liberar seu perdão. Desceu ele até a masmorra, fortaleza infernal, pois precisava concluir sua missão. Logo foi interpelado:
— O que temos nós contigo, Jesus, o Nazareno? Veio nos atormentar antes da hora?
— Venho eu requerer a posse das chaves. Você bem sabe que tenho eu direito a elas.
O líder da maldade nada pôde fazer diante daquela voz cheia de autoridade, que ressoava como se fosse o barulho de muitas águas.
Tomou Jesus das mãos do diabo, príncipe deste mundo, as chaves da morte e do inferno. A morte não pôde mais deter alguns escolhidos. Mortos ressuscitaram enquanto Jesus dormia no túmulo, porque estava ele bem acordado em outro plano, usando seus superpoderes para gerar vida em meio à morte.
Após três dias, o rei chamou seu grande amigo, chama-se esse Espírito Santo. Disse ele:
— Espírito de vida, é chegada a hora. Vá e desperte aquele que vive entre mortos.
Prontamente, o Espírito de vida desceu ao túmulo e disse:
— Jesus, saia para fora!
Ahhh... que voz doce. Que bom ouvi-la novamente, pensou Cristo ao ouvir tal convocação. Essa voz era mesmo inconfundível.
Abrindo os olhos, despertou o príncipe. A pedra que tapara o túmulo abriu caminho para o Filho de Deus.
Abraçaram-se por tempo prolongado. Ambos sabiam que Jesus teria que ficar mais alguns dias cuidando de seus amigos.
Após alguns dias, partiu ele rumo aos céus. O pai, saudoso, ouviu então o brado:
— Abri, ó portais eternos, pois lá vem o Rei da Glória.
— Quem é este o Rei da Glória?
— É o Senhor Todo-Poderoso.
Os portais logo abriram-se.
Viu o pai o seu amado filho, marcado pelas dores do amor. O tempo rendeu-se diante do afeto com que se encontraram. Lágrimas, sorrisos, declarações em forma de silêncio, de olhares e de poesias.
Uma grande sinfonia harmônica de um amor incondicional e sem limites.
Logo após tal reencontro presencial, chamou seu grande companheiro, o Espírito Santo, dizendo-lhe:
— Amado meu, ide à terra, cuidai de meus amigos. Eles são como ovelhas em meio aos lobos. E nós bem sabemos que o adversário decidiu roubar, matar através de falsos mestres e destruir todo o amor e preciosidades que deixei com eles.
Portanto, ide. Nos comunicaremos e dirás a eles tudo o que dissermos aqui.
Ah... mais uma coisa: não se esqueça de lembrá-los de minha palavra. Nós bem sabemos que, em meio a tantas distrações, eles poderão esquecer o que fora dito por mim.
Prontamente partiu o Espírito e passou a cuidar, até a consumação dos séculos, de todos os fiéis amigos da realeza.
Mas, eu já lhe disse qual é o caminho do céu?
Oh! Perdoe-me, direi eu o que o rei me mandou dizer-lhe, pois também fui feita porta-voz da majestade celestial.
Olhe... veja: em minha mão há o mapa para a glória eterna.
Veja, no caminho temos muitos obstáculos, mas não tema, nosso Rei aplainará nossos caminhos e endireitará nossas veredas.
Tome, contudo, muito cuidado! Não se desvie nem para a direita nem para a esquerda, pois isso pode significar o fim de sua trajetória.
Portanto, se já desviou-se, apresse-se a voltar ao caminho certo, para que não seja tarde demais. Cada minuto é precioso — devemos remir o tempo.
Mas, qual é a condição para entrar nesse reino, disse-lhe eu?
Pois bem, nesse reino só poderão entrar os limpos de coração. Nosso Rei preza muito pela higiene de seus súditos reais. Ou você pensou que ele fosse um imundo? Jamais!
No dia da convocação derradeira, ele olhará para cada coração e verificará se está limpo.
Caso esteja, com grande júbilo dirá:
"Vinde a mim, bendito de meu Pai, entre no reino que foi preparado para você desde a origem."
Mas, se por ventura vir algum coração, mãos, olhos, corpo, alma e espírito... enfim, alguma vida que não esteja limpa, com grande pesar dirá:
"Aparta-te de mim."
Quem sabe acrescentará, em alguns casos:
"Por que não abriu a porta quando eu lhe chamei? Preferiu deixar-me de fora de sua vida. Nada pude fazer eu."
Ou quem sabe dirá:
"Por que voltou a sujar-se? Por que extinguiu-me de ti? Estava eu sempre disposto a purificá-lo, mas nada pude fazer diante de sua escolha. Portanto, digo eu: aparta-te de mim!"
Mas... espera aí, está ouvindo esse som?
Chiuuuuuu! Silêncio!
Escute, caro leitor! Ouviu agora? Parece alguém batendo à porta e chamando nosso nome. Consegue ouvir?
Ah... já sei de quem se trata. É Jesus — essa voz é inconfundível.
O que você escolherá: deixá-lo de fora ou o receberá de braços abertos?
Bom, se bem conheço ele, com certeza não veio nos fazer uma breve visita. Visitas vêm e vão, e ele certamente quer morar conosco.
Ah, e já lhe aviso que não adianta dizer a ele:
"Não repare na bagunça, Senhor."
Porque, sem sombra de dúvidas, ele vai reparar. Jesus não suporta viver em meio à sujeira. Logo pedirá uma vassoura, um rodo e água para iniciar a limpeza. Você tem água aí, não tem, caro leitor?
Águas vivas fluirão dos corações que receberem a Cristo.
Bom, ele só fará tal limpeza se você deixar. Afinal, ele costuma respeitar suas decisões — mesmo que lamente por algumas delas.
E, por favor, não seja negligente quando ele for eliminar toda a sujeira moral que você insiste em guardar consigo.
Aconselho que não diga a ele:
"Senhor, isso não. Por favor, não jogue fora esse pecado. Gosto tanto dele!"
Afirmo que ele terá paciência para esperar que você mude de ideia. Mas, se por ventura você não for fazer tal coisa, ele irá embora, porque não suporta o pecado.
Olhe, ouviu de novo? Está sentindo ele tocar seu coração? Por ventura esqueceu que ele está do lado de fora e veio morar com você para sempre?
Que bom que ele é paciente e continua a chamar-nos!
Querido, eu vou lá convidá-lo a entrar na minha vida e pôr em ordem a bagunça que fiz dela.
E você, vai deixá-lo partir?
Ele escolheu tê-lo por toda a eternidade, mas cabe a você abrir-se para Ele.
Essa história real só terá um final feliz se o Rei reinar em seu coração. E, se isso ocorrer, você viverá feliz para sempre, após vencer todo obstáculo na trilha da vida.
Chega de papear, vou correndo abrir a porta antes que Ele se vá. Até outra ocasião, caro leitor.
Correndo até a porta, giro a maçaneta de minhas escolhas — escolhas essas que podem ou não me aproximar de Cristo. E digo, com grande júbilo:
"Senhor Jesus, meu amigo, que bom que veio. Pode entrar, a casa é sua!"
Autora: Eliane Mariz | Gênero: Conto | Editado: 15/06/16 | Atualizado e corrigido: 11/05/25
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