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O Avanço do Retrocesso
– Oh, não! Não é possível... esse som de novo!
A cada passo, avanço em uma caminhada onde pensamentos também seguem uma jornada: ora rumo ao futuro, arquitetando projetos e sonhando; ora regressando ao passado, recordando fatos gravados nos arquivos da mente.
De repente, um som desafinado interrompe essa viagem introspectiva.
– Oh, não! Não é possível... esse som de novo!
Sim, infelizmente era o som estridente do “pancadão”. Alguns funkeiros, não muito diferentes dos habituais, decidiram liberar, no volume máximo, as batidas e rimas obscenas vindas do equipamento sonoro do carro. Este evento, embora desagradável, despertou em mim uma nova linha de reflexão, mesmo que ela tenha sido interrompida de forma agressiva.
Pensei no futuro e na possibilidade de tornar público meu desabafo – através das redes sociais e desta crônica. Vagueando pelo universo legislativo, concluí que certas expressões de Funk deveriam ser proibidas por lei. Refiro-me, é claro, àquelas com letras imorais, que denigrem a imagem da mulher, banalizam o sexo e incitam rebeldia e desordem.
Caso julgue esta opinião como um ataque à liberdade de expressão ou à manifestação cultural, pergunto: por que nós, cidadãos, devemos ser forçados a ouvir letras tão pobres, que mais se assemelham a agressões à moral do que a canções?
Que liberdade de expressão é essa que prende o homem à depravação e à perversão de princípios? Por que permitimos que conteúdos obscenos e pornográficos alcancem os ouvidos de crianças e destruam sua inocência?
As estatísticas mostram que a gravidez na adolescência cresce e que crianças tornam-se sexualmente ativas cada vez mais cedo. Como manter a pureza da infância quando o que chega até elas são letras que banalizam a sexualidade?
Esperam que, após ouvirem gemidos remixados diariamente, essas crianças se interessem por atividades como jogar dominó?
Enquanto caminhava, percebi o quanto retrocedemos no campo da moral. Fui obrigada a “compactuar”, de forma involuntária, com o mau gosto musical ou “cultural” de alguns.
Essa crítica, vale dizer, não se limita ao Funk, mas a qualquer gênero cujas letras incitem o alcoolismo, a prostituição, a violência ou outros vícios. Afinal, agressão continua sendo agressão, mesmo quando acompanhada por violinos, sanfonas, violas ou pandeiros.
Autora: Eliane Mariz | Gênero: Crônica | Editado: 10/06/13 | Atualizado e corrigido no C.G.: 26/08/17
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